Onde descartar celulares antigos com certificado no Brasil

O perigo do descarte incorreto

Vivemos em uma era marcada pela conectividade constante. Os celulares deixaram de ser meros acessórios de comunicação para se tornarem ferramentas essenciais da vida moderna. No Brasil, eles concentram desde o acesso às redes sociais e serviços de streaming até a realização de operações bancárias, compras on-line, estudos e telemedicina. Segundo a Anatel, o número de linhas móveis ativas já supera a quantidade de habitantes do país, o que mostra não apenas a penetração tecnológica, mas também o desafio ambiental que acompanha esse fenômeno. A cada novo aparelho adquirido, surge a questão de como descartar o antigo de forma correta.

O ciclo de vida de um celular é cada vez mais curto. A rápida evolução tecnológica, somada à pressão do mercado por novidades anuais e à obsolescência programada de certos componentes, faz com que milhões de brasileiros troquem de aparelho em intervalos médios de dois anos. Esse comportamento cria um volume gigantesco de resíduos eletrônicos que, se não for gerido adequadamente, compromete tanto o meio ambiente quanto a saúde humana.

Grande parte desses aparelhos acaba em gavetas, criando o que especialistas chamam de ‘cemitérios de eletrônicos domésticos’. Estima-se que mais de 40% dos brasileiros mantenham ao menos um celular antigo guardado sem uso. Outros, infelizmente, descartam o dispositivo no lixo comum, o que representa um erro grave. Celulares não são lixo comum: contêm materiais que precisam de tratamento específico para não se tornarem fontes de poluição.

As baterias utilizadas em celulares são compostas por metais pesados altamente tóxicos, como chumbo, mercúrio e cádmio. Quando expostos em aterros convencionais, esses elementos químicos podem vazar e se infiltrar no solo, alcançando lençóis freáticos. Esse processo de contaminação compromete rios, lagos e reservatórios de água potável, colocando em risco ecossistemas inteiros. Os efeitos na saúde humana são igualmente preocupantes.

Outro aspecto frequentemente ignorado é o desperdício econômico. Celulares são verdadeiras minas urbanas: em suas placas e componentes encontram-se metais valiosos como ouro, prata, cobre, platina e alumínio. De acordo com o PNUMA, uma tonelada de placas de circuito eletrônico pode conter até 100 vezes mais ouro do que uma tonelada de minério extraído da terra. Cada celular jogado fora de forma inadequada significa perder a oportunidade de recuperar insumos estratégicos que poderiam retornar à indústria.

O relatório Global E-waste Monitor 2020 aponta que o mundo gerou 53,6 milhões de toneladas de lixo eletrônico em 2019, um recorde histórico. O Brasil aparece como o quinto maior produtor mundial de e-lixo, com mais de 2 milhões de toneladas por ano. Ainda mais preocupante: menos de 3% desse volume é reciclado de forma adequada. Enquanto países da União Europeia conseguem reciclar até 40% de seus resíduos eletrônicos, o Brasil ainda engatinha nesse processo.

A PNRS, sancionada em 2010, estabeleceu o princípio da responsabilidade compartilhada, determinando que fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, governos e consumidores devem dividir as responsabilidades pelo ciclo de vida dos produtos. Apesar disso, mais de uma década depois, ainda enfrentamos dificuldades práticas de implementação, seja pela falta de fiscalização, seja pelo desconhecimento da população.

A importância do descarte adequado vai além da proteção ambiental: trata-se de cidadania e responsabilidade social. Quando uma pessoa opta por levar seu celular antigo a um ponto de coleta, está contribuindo para reduzir a poluição, economizar recursos naturais, gerar empregos e estimular práticas empresariais mais sustentáveis.

Neste artigo, vamos apresentar os principais serviços gratuitos de coleta disponíveis no Brasil, entender como funciona o processo de emissão de certificados de descarte e refletir sobre a importância dessa prática para a economia circular e o futuro sustentável do país.

Serviços gratuitos de coleta e grandes marcas

O descarte correto de celulares antigos só é possível quando existem canais acessíveis para a população. Nos últimos anos, o Brasil tem avançado na criação de serviços gratuitos que permitem ao consumidor entregar seu aparelho de forma segura e ambientalmente responsável. Esses serviços estão disponíveis em diferentes frentes: ecopontos municipais, programas de operadoras de telefonia, iniciativas de fabricantes, projetos de organizações privadas e atuação de cooperativas de catadores.

Diversas prefeituras já implementaram ecopontos especializados no recebimento de lixo eletrônico. Em São Paulo, há dezenas de unidades distribuídas por bairros estratégicos. Esses ecopontos recebem celulares, baterias, carregadores e outros pequenos eletrônicos, encaminhando-os para cooperativas ou empresas recicladoras homologadas. Em Belo Horizonte, o programa Ecoponto BH funciona em parceria com associações de catadores. Curitiba, reconhecida por suas práticas inovadoras em gestão ambiental, mantém postos de coleta de e-lixo em diferentes regiões, integrando-os à política municipal de resíduos sólidos.

As quatro maiores operadoras de telefonia do Brasil — Vivo, Claro, TIM e Oi — oferecem canais gratuitos de coleta de celulares antigos. O programa Vivo Recicla, presente em mais de 1.800 lojas, já recolheu mais de 5 milhões de itens. A Claro mantém urnas instaladas em centenas de lojas físicas. A TIM possui parcerias com organizações ambientais e disponibiliza pontos em lojas próprias e revendas. A Oi participa com urnas em algumas de suas unidades.

Os fabricantes também criaram programas próprios. A Samsung mantém urnas de coleta em assistências técnicas autorizadas. A Apple opera o programa Trade-In, em que consumidores podem entregar aparelhos antigos e, em alguns casos, obter descontos. A Motorola oferece pontos de coleta em assistências autorizadas, e a LG manteve canais de logística reversa mesmo após sair do mercado de celulares.

Duas iniciativas merecem destaque: Green Eletron e ABREE. A Green Eletron, organização gestora criada pela Abinee, possui mais de 2.000 pontos de coleta em supermercados, shoppings e lojas de eletrônicos. A ABREE organiza campanhas itinerantes em diversas cidades, muitas vezes em parceria com prefeituras.

As cooperativas de catadores, por sua vez, desempenham papel duplo: reduzem a poluição ambiental e geram inclusão social. Muitas receberam capacitação para lidar com e-lixo e já se tornaram parceiras de prefeituras e empresas. Ao entregar um celular em um ponto ligado a uma cooperativa, o consumidor não apenas protege o meio ambiente, mas também apoia famílias que dependem dessa atividade.

Embora os canais existam, a falta de conhecimento da população é um grande obstáculo. Pesquisas mostram que a maioria dos brasileiros não sabe onde encontrar ecopontos ou programas de coleta. Campanhas educativas e informações claras nos próprios aparelhos poderiam aumentar a conscientização.

Como pedir certificado de descarte

Uma dúvida comum é como comprovar que o celular descartado realmente recebeu a destinação correta. A resposta está no certificado de descarte. Esse documento é a prova oficial de que o resíduo eletrônico foi tratado de acordo com normas ambientais.

É importante diferenciar recibo de certificado. O recibo apenas confirma a entrega do aparelho, enquanto o certificado atesta que o material foi triado, desmontado e reciclado conforme padrões técnicos. Para empresas, apenas o certificado tem validade em auditorias, relatórios de ESG e processos de certificação.

No Brasil, entidades como Green Eletron e ABREE estão habilitadas a emitir certificados. Recicladoras privadas homologadas também oferecem esse documento. Alguns fabricantes, como Apple e Samsung, fornecem comprovantes que cumprem função semelhante.

O processo para solicitar é simples: identificar um ponto de coleta credenciado, entregar o aparelho, registrar a entrega, acompanhar o processamento e receber o certificado — geralmente emitido em formato digital. Empresas que geram grandes volumes de e-lixo firmam contratos periódicos com recicladoras e recebem relatórios detalhados. Consumidores individuais podem solicitar em pontos de coleta ou campanhas específicas.

Para empresas, o certificado é essencial para demonstrar conformidade com a PNRS e práticas de ESG. Para pessoas físicas, é uma forma de engajamento e cidadania ambiental, útil em escolas, condomínios ou organizações comunitárias.

Prática consciente e responsabilidade ambiental

O descarte de celulares antigos é um tema que une meio ambiente, economia e cidadania. Cada aparelho guardado em uma gaveta representa uma oportunidade perdida de recuperar recursos valiosos. Cada celular jogado no lixo comum é uma fonte potencial de poluição. Por outro lado, cada dispositivo entregue em um ponto de coleta é um ato de responsabilidade que beneficia toda a sociedade.

Apesar da existência de ecopontos, programas de operadoras, fabricantes e organizações como Green Eletron e ABREE, a taxa de reciclagem brasileira continua abaixo de 3%. Isso mostra que a infraestrutura existe, mas precisa ser mais divulgada e utilizada.

O certificado de descarte é um instrumento que fortalece a confiança no processo. Ao exigir esse documento, empresas e consumidores contribuem para criar uma cultura de rastreabilidade e transparência.

Ampliar a reciclagem de celulares significa reduzir a dependência da mineração de metais nobres, economizar energia e estimular novos negócios. Socialmente, fortalece cooperativas e gera empregos. Ambientalmente, reduz contaminações e preserva recursos.

Descartar celulares antigos corretamente não é apenas uma opção, é uma necessidade. Trata-se de uma mudança de mentalidade que precisa ocorrer em todos os níveis — individual, empresarial e governamental. O futuro sustentável depende de pequenas decisões de hoje. Cada celular descartado corretamente é um passo rumo a um planeta mais saudável para as próximas gerações.

Links úteis

Green Eletron – Pontos de coleta: https://greeneletron.org.br/

ABREE – Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos: https://abree.org.br/

Apple Brasil – Programa Trade-In: https://www.apple.com/br/trade-in/

Samsung Brasil – Programa de coleta: https://www.samsung.com/br/

Vivo Recicla: https://www.vivo.com.br/para-voce/reciclagem